O Hospital Israelita Albert Einstein inaugurou nesta semana a sua primeira unidade de saúde mental e bem-estar voltada a crianças, adolescentes e adultos. O serviço funciona em um espaço de 1.400 m² em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista.
A proposta é centralizar todos os atendimentos ambulatoriais de saúde mental na nova unidade, que ofertará, além de consultas psiquiátricas e psicológicas, grupos terapêuticos e procedimentos que só podem ser feitos em ambientes controlados.
Entre eles estão a estimulação magnética transcraniana, usada para tratamento de doenças como depressão e TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), a eletroconvulsoterapia, indicada para casos de depressão grave, transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outros, e a aplicação de medicamentos endovenosos, como a cetamina, usada em casos de ideação suicida, por exemplo.
A iniciativa ocorre em um momento em que mais de um quarto (26,8%) da população brasileira, ou 56 milhões de pessoas, apresenta algum grau de transtorno psíquico, segundo dados da pesquisa Covitel, do ano passado.
Pela primeira vez na história, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos, mostrou análise da Folha a partir da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS (Sistema Único de Saúde), de 2013 a 2023, período com dados disponíveis, publicada ano passado.
O próprio Einstein viu dobrar o número de atendimentos gerais em psicologia entre 2017 e 2024: de 5.228 para 10.424.
Segundo Sidney Klajner, presidente do Einstein, o maior aumento ocorreu após a pandemia de Covid-19 tanto no pronto-atendimento quanto entre os colaboradores. Muitas empresas também passaram a buscar o cuidado aos seus funcionários dentro de programas de saúde corporativa oferecidos pela instituição.
O Einstein é responsável por quatro Caps (Centros de Atenção Psicossocial), serviços públicos de saúde mental, dentro de um total de 26 unidades de atenção primária à saúde que a instituição gerencia em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
“A gente passou a ser provocado pela comunidade judaica e pela comunidade maior para ter um serviço de saúde mental, já que não há tantas opções. Hoje, quando há necessidade de internação, tudo é muito caro e difícil”, diz Klajner.
A unidade oferecerá atendimentos a pacientes particulares, colaboradores e funcionários inseridos em programas de saúde corporativa.
Na unidade, há linhas de cuidado baseadas em evidências científicas para diversos transtornos psiquiátricos, entre eles os de ansiedade e fobias (como ansiedade generalizada e estresse pós-traumático), afetivos (como depressão e transtorno bipolar), alimentares, de personalidade, psicóticos, do espectro autista e do déficit de atenção e hiperatividade e TOC.
Além da assistência, a instituição também oferece cursos de pós-graduação em saúde mental e, a partir deste ano, passa a contar também com uma graduação em psicologia.
De acordo com psiquiatra Luiz Zoldan, gerente médico do Espaço Einstein Bem-Estar e Saúde Mental, a unidade estará integrada a todo o ecossistema do Einstein. Por exemplo, se uma pessoa procurar o pronto-socorro do hospital com uma crise de ansiedade, ela pode ter o primeiro atendimento clínico e, depois, referenciada para um acompanhamento ambulatorial na nova unidade.
Para ele, ao abrir um espaço exclusivo à saúde mental, o Einstein ajuda também no combate ao estigma que ainda existe em torno dos transtornos psíquicos.
Zoldan explica que, além das consultas e procedimentos, a proposta é também investir em grupos terapêuticos para diversas patologias, como dependência química. “Hoje é uma grande dificuldade encaminhar um paciente do consultório para um grupo terapêutico.”
Para cada linha de cuidado, haverá grupos terapêuticos específicos ancorados em diferentes abordagens. A principal linha é a cognitivo comportamental. No caso das crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista), a terapia de escolha é a ABA, abreviação para Applied Behavior Analysis, ou Análise do Comportamento Aplicada, que trabalha no reforço dos comportamentos positivos.
Como parte do complexo de sistema de ensino do Einstein, a unidade receberá também residentes de psiquiatria e desenvolverá projetos de pesquisa, desde ensaios clínicos para testar novas substâncias até a validação de aplicativos e inovações tecnológicas com enfoque em saúde mental, como diagnósticos e e tratamentos assistidos por IA (Inteligência Artificial).
“Hoje a gente é procurado por startups do mundo inteiro porque é mais barato fazer a validação de pesquisa por meio de um ambiente como o nosso do que nos Estados Unidos e na Europa. Nosso instituto de pesquisa entrega essa validação com evidência científica robusta”, diz Sidney Klajner.
Todos os aprendizados em saúde mental advindos da nova unidade do Einstein também devem chegar ao SUS, segundo Klajner. “O que a gente consegue fazer e tem vantagem, a gente escala para a saúde pública.”