Você já ouviu falar da famosa ilusão do cardápio fixo? Você entra em um restaurante e vê um prato a R$ 50, mas percebe que, se pedir o mesmo prato no combo com bebida e sobremesa, o preço sobe para R$ 80. A diferença de R$ 30 pode ser vista como “implícita”. Ela está ali, mas não de forma direta.
No mercado financeiro, existe um conceito semelhante: a inflação implícita. Ela não é a inflação real, mas sim a expectativa embutida nos preços dos ativos. E é justamente essa diferença que está por trás de uma estratégia que o fundo Verde está apostando para capturar oportunidades, segundo sua carta mensal, divulgada nesta semana.
A inflação implícita nada mais é do que a estimativa do mercado sobre a inflação futura, calculada pela diferença entre as taxas de juros de um título público prefixado e um título indexado ao IPCA com mesmo vencimento.
Por exemplo, se um título prefixado de 5 anos rende 14,6% ao ano e um Tesouro IPCA+ oferece IPCA + 8%, o mercado está embutindo uma inflação esperada de aproximadamente 6,11% (=1,146/1,08-1) ao ano nesse período.
A tabela abaixo destaca a inflação implícita atual no Brasil para alguns prazos.
Prazo | Inflação Implícita (% ao ano) |
---|---|
6 meses | 4,93% |
1 ano | 5,51% |
2 anos | 6,11% |
3 anos | 6,25% |
4 anos | 6,41% |
5 anos | 6,55% |
6 anos | 6,65% |
Importante atentar que a inflação implícita não é a inflação real, mas apenas um reflexo do que os investidores negociam nas taxas dos títulos. Se o mercado estiver subestimando a inflação futura, quem comprar essa expectativa barata pode ganhar dinheiro quando a realidade se mostrar diferente.
É exatamente isso que o fundo Verde está fazendo. Ele está apostando que a inflação futura será maior do que o que está embutido nos preços hoje, ou seja, na tabela acima. Para isso, uma das formas de ele implementar esta operação é por meio de títulos públicos indexados ao IPCA e negociação de contratos futuros de juros (DI), que representaria a parcela prefixada.
Na prática, caso ele esteja certo, o fundo ganhará dinheiro com essa operação se a inflação até o vencimento subir acima das taxas indicadas na tabela acima, pois os títulos atrelados à inflação tendem a render mais do que os prefixados.
De fato, o gestor não precisa esperar que a inflação ocorra e os títulos cheguem ao vencimento, mas apenas que os agentes de mercado precifiquem essa alta de inflação futura nos títulos. Neste caso, o mercado deveria ou elevar as taxas de juros nos títulos prefixados com a taxa real estável ou reduzir a taxa de juros real negociada, mantendo a taxa prefixada estável.
Mas, como qualquer estratégia, há riscos. Se o Banco Central conseguir controlar a inflação melhor do que o esperado, essa operação pode ter um retorno menor ou até um prejuízo. Afinal, se a inflação implícita cair, os títulos indexados ao IPCA podem ser uma pior escolha que os prefixados.
O que essa estratégia ensina para o investidor comum? Primeiro, que os mercados nem sempre precificam corretamente o futuro. Segundo, que oportunidades surgem quando há desalinhamentos entre expectativas e realidade. E, por fim, que entender os ciclos econômicos pode ser tão ou mais importante do que escolher bons ativos. Afinal, o mercado financeiro não se move apenas pelo que já aconteceu, mas pelo que os investidores acreditam que ainda vai acontecer.
E você, acredita que as inflações implícitas na tabela acima estão baixas e também apostaria na alta?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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