O dólar apresenta forte queda nesta sexta-feira (14), dia marcado por apetite por risco nos mercados globais.
Os investidores seguem atentos às notícias sobre os planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e, na ponta doméstica, avaliam os últimos dados sobre as contas públicas do país.
Às 12h24, a moeda norte-americana caía 1,14%, cotada a R$ 5,731 na venda. Já a Bolsa disparava 2,23%, a 128.441 pontos, em mais um pregão de força dos pesos-pesados Vale, Petrobras e setor bancário.
Os mercados globais experienciam alívio na pressão que tomou conta nos últimos dias. Ainda que as preocupações sobre o tarifaço de Trump continuem, a sexta-feira “está refletindo uma demanda maior por ativos de risco”, pontua Marcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.
O motivo, segundo ele, recai na cena política norte-americana. O Congresso dos EUA está próximo de aprovar uma lei provisória para financiar o governo federal e, assim, evitar uma paralisação de atividades a partir de sábado.
Os democratas recuaram do impasse que até então estava impedindo a aprovação da lei. A ala de oposição ao governo republicano tem demonstrado insatisfação com a campanha de Trump e Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), para reduzir a força de trabalho federal.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse não gostar do projeto de lei, mas afirmou que as consequências de uma paralisação do governo seriam uma “opção muito pior”
Com “o alívio no risco de ‘shutdown’ nos Estados Unidos”, na análise de Riauba, parte das incertezas dos investidores se dissipou.
A guerra comercial instalada por Trump, porém, segue no radar. Depois que as tarifas de importação de 25% sobre produtos de aço e alumínio entraram em vigor na quarta-feira, países afetados retaliaram. O Canadá, principal parceiro comercial dos Estados Unidos na categoria, disse que irá impor 29,8 bilhões de dólares canadenses (R$ 120,3 bi) em tarifas a partir desta quinta.
Já a União Europeia anunciou tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros (R$ 164,9 bi) em produtos norte-americanos a partir do próximo mês, como barcos, uísque e motocicletas Harley Davidson. Outras categorias também podem entrar na lista.
Trump, em resposta às represálias, subiu o tom. Na quinta, ameaçou aplicar uma taxa de 200% sobre vinhos e outros produtos alcoólicos provenientes da UE caso o bloco não retire a tarifa sobre o uísque. Ele, no entanto, disse continuar aberto a negociações e que tarifas mais altas não são do interesse de ninguém.
O tarifaço tem inspirado cautela nos mercados globais. “A retaliação dos países atingidos pelas tarifas de Trump adiciona mais risco geopolítico, o que, consequentemente, resulta em maior incerteza por parte dos investidores”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
A maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.
“Está ficando muito agitado agora, porque as tarifas estão indo e vindo e ninguém sabe até onde isso pode ir”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista sênior do Swissquote Bank.
“Sejam elas efetivas ou táticas de negociação, as tarifas aumentam as expectativas de inflação e é por isso que os mercados estão em pânico neste momento.
Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
Juros altos também inibem a atividade econômica, mas o Fed ainda vê os principais indicadores econômicos em “progresso contínuo”.
O Fed pausou o ciclo de cortes na taxa no início do ano, sob justificativa de resiliência do mercado de trabalho e inflação ainda acima da meta de 2%. Na reunião da próxima semana, a expectativa é que os juros sejam mantidos novamente na faixa atual de 4,25% e 4,5%.
Uma bateria de dados recentes, porém, renovou expectativas de que o ciclo de afrouxamento seja maior do que o esperado, com possibilidades de um próximo corte na reunião de junho.
Já na cena doméstica, a dívida bruta do Brasil registrou uma queda inesperada em janeiro e foi a 75,3% do PIB, contra 76,1% no mês anterior. A expectativa de economistas consultados pela Reuters era de alta para 76,2%.
Já a dívida líquida foi a 60,8% em janeiro, de 61,2% em dezembro e projeção de 61,3%.
O dado “não atrapalha” os ativos brasileiros, na visão de Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX. Mas o verdadeiro foco, segundo ele, está no exterior.
Na ponta macroeconômica, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que as vendas varejistas no Brasil apresentaram recuo em janeiro pelo terceiro mês consecutivo, ainda que tenham ficado um pouco acima do esperado.
Além disso, o órgão relatou que os preços ao produtor desaceleraram para uma alta de 0,13% em janeiro diante da queda dos custos dos alimentos, marcando o menor nível em um ano.
Com Reuters