“Por que nada nunca pode simplesmente ficar como está?”
Uma paciente fez essa pergunta durante uma sessão de terapia, refletindo sobre como, à medida que envelhecemos, muitas coisas podem se desorganizar, vida doméstica, relações sociais, segurança no trabalho e saúde.
Pode ser difícil saber como lidar com as mudanças que surgem com o envelhecimento. Com o tempo, enfrentamos cada vez mais abalos à sensação de estabilidade e previsibilidade que nos esforçamos tanto para construir ao longo dos anos. Nos perguntamos se realmente temos controle sobre alguma coisa.
Isso pode ser especialmente angustiante quando nosso corpo e mente deixam de funcionar como antes. Surgem dores, às vezes em lugares que nem sabíamos que existiam, a mente não é tão afiada, o cansaço diurno aumenta, mas o sono se torna mais difícil, a recuperação de doenças e lesões demora mais, e a pessoa que vemos no espelho se parece cada vez menos com o ideal que mantínhamos em nossa mente.
O envelhecimento nos faz repensar as expectativas que tínhamos sobre a vida. Quando jovens, acreditamos que podemos mudar o mundo, mas, com o tempo, essa esperança vai se desgastando. Aos poucos, percebemos que a vida é menos sobre transformar a realidade e mais sobre aceitá-la. Mesmo com experiência e conhecimento, a idade pode nos limitar na hora de agir.
Nossa sociedade tende a nos incentivar a negar a passagem do tempo, insistindo que a renovação é possível apenas se quisermos o suficiente. O etarismo tem sido descrito como a forma mais invisível de discriminação, muitas vezes enfrentando pouca resistência cultural ou social. Isso pode ocorrer devido ao ritmo acelerado da vida moderna e ao desejo coletivo de negar que o tempo eventualmente afetará a todos.
Essa negação é compreensível. Reconhecer limitações e lamentar a vida que poderia ter sido pode ser muito doloroso. Adaptar-se às circunstâncias em mudança também pode ser desafiador. Por exemplo, os filhos saem de casa, o que pode gerar a chamada síndrome do ninho vazio, com sentimentos comuns de tristeza, luto e solidão. Ou, ao pensarmos na aposentadoria, a resposta para “o que vem agora?” pode trazer angústia, seja porque não temos condições financeiras para parar de trabalhar, seja porque nossa identidade está completamente atrelada à vida profissional.
Quando o significado da vida está atrelado à estabilidade, a mudança pode ser difícil de aceitar, levando-nos à negação ou ao desespero. Lamentar o que passou e encontrar valor no que permanece pode ser um processo contínuo.
Aqui estão algumas formas de lidar com a passagem do tempo e os efeitos do envelhecimento:
Aceite seu ponto de partida
É fácil ficar desanimado se tendemos a comparar onde estamos agora com onde estávamos em nosso “melhor momento”, seja qual for a definição disso. Pode parecer que a única maneira de sentir realização é recriar aquele eu ideal.
Muito mais difícil é lamentar quem fomos e aceitar que precisamos encarar o futuro a partir de um novo ponto de partida. O desafio é que esse ponto de partida pode mudar —às vezes de forma drástica— conforme os acontecimentos da vida se acumulam.
Manter uma mentalidade paciente e flexível, enxergando a realidade como algo dinâmico e em constante mudança, pode ajudar a promover uma maior aceitação das circunstâncias atuais, reduzindo a sensação de impotência. No entanto, cultivar essa forma de pensar pode exigir esforço, pois na velhice a flexibilidade cognitiva pode ser afetada, tornando esse processo desafiador.
Revise suas expectativas
Tente moderar o que espera dos outros. Um dos aspectos mais difíceis da vida é perceber que a mente das outras pessoas é uma entidade separada e além do nosso controle.
Se não reconhecermos essa separação, podemos nos decepcionar quando filhos e amigos estiverem menos presentes do que gostaríamos. Essa decepção pode ser ainda mais forte quando as limitações impostas pela idade tornam essa presença especialmente necessária.
Por mais difícil que seja, suavizar as expectativas e cultivar redes sociais ampliadas com pessoas da mesma faixa etária pode promover um sentimento de aceitação e pertencimento, em vez de sobrecarregar com sentimentos de desânimo e abandono.
Não subestime seu valor
Diante de um mundo que parece avançar rapidamente sem nós, podemos nos desvalorizar e ignorar o quanto vivemos, incluindo o que aprendemos por meio de tentativa, erro e sofrimento.
Há muitos “especialistas” autoproclamados que confundem opinião com realidade, mesmo sem terem passado por experiências concretas de vida. À medida que envelhecemos, é importante lembrar que uma perspectiva baseada na vivência importa e só pode ser adquirida com o tempo. Não pode ser comprada nem acelerada.
Quando vemos as coisas por esse ângulo, percebemos como o tempo pode fortalecer nosso senso de propósito, em vez de apagá-lo. Nossa presença e contribuições fazem diferença para os outros, o exemplo que damos ajudará a moldar gerações dentro e além do nosso tempo.
Este texto foi originalmente publicado em The Washington Post.