Após Oregon e Colorado, o Novo México aprova legalização da substância psicodélica psilocibina de cogumelos “mágicos” em centros licenciados. Há indícios de que se levanta uma maré de flexibilização, à margem da licença biomédica pela agência de fármacos dos EUA, FDA, que em agosto rejeitou o primeiro pedido de psicoterapia psicodélica. Até igrejas psicodélicas surfam nessa onda.
Outra derrota ocorreu em novembro, quando proposta pró-psicodélicos mais ambiciosa fracassou em Massachusetts. Vários outros estados, contudo, se movimentam para abrir espaço a compostos como psilocibina e MDMA (ecstasy): há duas semanas eram 22 estados, e agora se contam pelo menos 27, segundo levantamento do boletim Psychedelic Alpha, com recentes iniciativas de Carolina do Norte, Maine, Minnesota, Texas e Virgínia Ocidental.
No Novo México a mudança se deu pelo Legislativo estadual, e não por referendo, como no caso do Oregon (2020) e do Colorado (2022). A Lei de Psilocibina Médica nasceu como projeto de lei 219 do Senado local, aprovado por ampla maioria na casa (33 votos a 4) e na Assembleia do estado (56 a 9), com apoio tanto de democratas quanto de republicanos –psicodélicos ensejam confluência política rara no conflagrado cenário norte-americano sob Donald Trump.
A governadora democrata Michelle Lujan Grisham sancionou a lei disciplinando quais condições médicas permitirão que pacientes utilizem psilocibina não sintética, no caso cogumelos Psilocybe desidratados. A droga já passou por testes clínicos de fase 2 contra depressão, com bons resultados, e há dois estudos de fase 3 em andamento, um do Instituto Usona e outro da empresa Compass Pathways. Uma aprovação pela FDA não viria antes de 2027 ou 2028, porém.
Segundo Psychedelic Alpha, a norma aprovada no Novo México fala em atendimento para pessoas com transtorno de estresse pós-traumático, depressão resistente a tratamento, dependência química e cuidados paliativos no fim da vida. A lei entra em vigor em dezembro de 2027 e, até lá, será regulamentada com ajuda de um conselho consultivo de nove membros, que terá obrigatoriamente representantes de grupos indígenas, organizações do terceiro setor dedicadas à saúde mental, da autoridade estadual de saúde e de veteranos de guerra.
Não são apenas movimentos sociais antiproibicionistas e parlamentares que se mexem em defesa das substâncias alteradoras de consciência. Há quem preveja uma voga de regularização de igrejas psicodélicas, nos EUA, como ocorreu com as ayahuasqueiras União do Vegetal (UFV), em 2006, e Church of the Holy Light of the Queen (igreja da sagrada luz da rainha, um dos nomes usados para designar a chacrona, planta que contém o psicodélico dimetiltriptamina, DMT, também pesquisado para depressão), em 2009.
A DMT integra nos EUA o famigerado Schedule 1, lista federal de substâncias proibidas controladas, que supostamente têm grande potencial para abuso e não têm benefício médico (duas condições em que não se encaixam os psicodélicos clássicos, como DMT, LSD, psilocibina e mescalina). Como a ayahuasca contém DMT, igrejas como Santo daime ficam sujeitas a batidas, apreensões e prisões pela agência de drogas DEA.
No ano passado, a DEA fez acordo judicial com a Igreja da Águia e do Condor de Joseph Tafur, como noticiou o caderno Ilustríssima em maio passado. Agora foi a vez Outro acordo estaria a gora em vias de ser firmado com a Celestial Heart Church (igreja do coração celestial), informa o blog Ecstatic Integration.
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