Você já viu alguém tentando encher um balde com furo no fundo? A pessoa se esforça, corre, sua… e não entende por que a água nunca acumula. Em finanças, esse balde furado costuma ter um nome: urgência.
Muita gente confunde o que é urgente com o que é prioridade. Parece tudo a mesma coisa, mas essa confusão — especialmente entre pessoas de alta renda — é um dos maiores sabotadores silenciosos do bom planejamento financeiro.
Urgente é o que grita mais alto. É o resgate para pagar um imposto inesperado. É o rebalanceamento da carteira por causa de uma mudança brusca no mercado. É a resposta imediata a uma oscilação no dólar ou à fala de um presidente de Banco Central. Coisas que não podem esperar.
Já prioridade… prioridade quase nunca grita. Ela exige visão. É proteger sua renda se você ainda depende dela. É organizar a sucessão para que sua ausência não seja também um colapso patrimonial. É garantir que seu plano de longo prazo esteja em marcha, mesmo quando o curto prazo tenta te empurrar para decisões apressadas. É planejar sua sucessão patrimonial. São as decisões que não doem se adiadas hoje… mas que cobram caro amanhã.
O problema é que, com uma boa renda, resolver o urgente até se torna fácil. Você tapa o buraco com dinheiro. A sensação de controle aumenta, mas é falsa. Porque aquilo que realmente sustentaria sua segurança financeira — sua blindagem, seu direcionamento, sua estratégia — continua sendo adiado.
O curioso é que, no mundo empresarial, essa lógica é mais clara. Nenhuma grande empresa toma decisões só com base na demanda imediata. Uma geradora de energia ou uma companhia como a Vale não investem bilhões pensando em atender à oscilação do próximo trimestre. Elas operam com horizonte de décadas. Mas, na vida pessoal, muitos executivos e profissionais de sucesso seguem investindo e decidindo como se o futuro nunca chegasse.
A miopia temporal, como chamam os psicólogos comportamentais, é esse viés que nos faz superestimar o presente e ignorar o longo prazo. Só que o futuro chega. E ele cobra caro de quem não se preparou.
Quantas vezes você já viu alguém bem-sucedido, com patrimônio elevado, ser pego de surpresa por uma doença, um acidente, uma separação ou uma crise de liquidez? Quem vive apagando incêndios pode se esquecer de construir uma casa à prova de fogo.
Então, pare e pense: sua vida financeira está sendo guiada por prioridades ou por urgências? Você está empurrando o essencial enquanto resolve o que apenas parece importante?
Porque a verdade é uma só: o patrimônio não é construído na pressa, mas na clareza. E quem quer proteger o que tem — ou multiplicar o que ainda vai conquistar — precisa começar pelas decisões que não aparecem nos extratos. Mas que fazem toda a diferença lá na frente.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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