Aprovada no CNU (Concurso Nacional Unificado), Luisa Pavarin, 24, terá como primeiro emprego no setor público o cargo de ACE (analista de comércio exterior), com salário de R$ 20.924,80. E, embora a estabilidade e a remuneração elevada sejam pontos fortes da carreira, ela diz que o maior benefício de atuar no setor público vem da possibilidade de gerar impacto positivo para o país.
Antes de passar no Enem dos Concursos, a única experiência profissional que Luisa teve foi como estagiária em uma consultoria.
“Queria algo que me fizesse pensar que fiz algo de bom para a sociedade. Daí comecei a ver concursos”, diz ela. “O cargo [de ACE] é bem dinâmico, com atuação não só em comércio exterior, mas até no desenvolvimento econômico. Isso me animou bastante.”
Filha de um instrutor de autoescola e de uma dona de casa, ela estudou a vida inteira em escolas públicas de Campinas, no interior de São Paulo, onde nasceu. Depois de formada no ensino médio, fez um ano de curso pré-vestibular, em busca de alguma vaga em engenharia que, para Luisa, é uma área com um leque amplo de áreas.
Passou para engenharia mecânica na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 2019. No mesmo ano, ganhou o Prêmio Capes Talento Universitário, que dá R$ 5.000 para os mil estudantes da graduação com melhor desempenho em uma prova de conhecimentos gerais.
Durante a faculdade, ela também foi bolsista de iniciação científica na área de administração, para atuar com ESG, em práticas sustentáveis nas empresas.
Em 2022, Luisa foi aprovada, com bolsa, para um intercâmbio na Universidade Ca’ Foscari de Veneza, na Itália. Foi a primeira vez que viajou para o exterior. Lá, ela estudou administração e economia.
“Antes do intercâmbio, eu detestava a ideia de fazer concurso, porque queria morar fora. Mas, quando fui a outro país, percebi que o Brasil é maravilhoso. Colocamos muito defeito aqui, sem ter contato com outros outros lugares”, afirma. “Me deu vontade de continuar no Brasil, de contribuir para corrigir os problemas.”
Somado a isso, a experiência como estagiária em uma consultoria foi outro fator que incentivou Luisa a trabalhar no setor público, onde poderia atuar com políticas públicas. Segundo a engenheira, sua decisão foi diferente da tomada pela maior parte dos alunos de seu curso, que optaram por seguir no mercado privado.
“O concurso público, ainda mais na engenharia, é muito pouco falado na Unicamp. Acho que existe até um preconceito, que eu também tinha antes. Eu pensava que era um trabalho mais repetitivo. Mas depois descobri que, principalmente no governo federal, pode ser dinâmico.”
Ela começou a se dedicar para concursos em 2023, antes de sair o edital do CNU. Nessa época, inscreveu-se em outros certames, entre os quais da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do Ministério do Planejamento e Orçamento.
No preparo para as provas, ela estudava, no máximo, quatro horas por dia. Usava um aplicativo open source chamado Anki, para organizar suas anotações e rotina de dedicação ao concurso.
No CNU, suas principais opções eram de EPPGG (especialista em políticas públicas e gestão governamental) e ACE, na qual foi aprovada. Para Luisa, suas chances eram menores no primeiro cargo, em que o peso da prova de títulos era alto.
“Esse foi ponto negativo do CNU, que acaba prejudicando quem está no começo da carreira”, diz.
Depois de aprovada, encontrou nas redes sociais grupos com outros candidatos que passaram no certame, em que os participantes têm interagido e trocado dicas sobre trabalho no setor público e a vida em Brasília. Ela é a mais jovem entre os membros do grupo que passaram para o cargo de ACE.
“O importante é ser uma pessoa motivada, independentemente da idade. Tem muita gente que entra no trabalho, mas não vê sentido daquilo. Acho que essa é a diferença da minha geração para as outras: precisamos fazer algo que nos motiva, não só por fazer.”
Esta é a quinta reportagem de uma série sobre os aprovados no CNU, uma parceria entre a Folha e o Instituto República.org, voltado à gestão de pessoas no setor público. A série aborda a trajetória pessoal, profissional e a dedicação aos estudos de alguns dos futuros servidores classificados no maior concurso público da história.