Em meio a tardes chuvosas, prenúncios de alagamentos, queda de árvores e trânsito infernal em megacidades como São Paulo –e mesmo em localidades bem menores–, eis que surgem, no aplicativo de mensagens, ofertas de produtos e serviços como contadores, lojas e imobiliárias. Como conseguiram o número do meu celular? Bloqueio, mas percebo que nossa segurança e privacidade continuam sujeitas a chuvas e trovoadas.
Pode ser que muitas dessas mensagens sejam mesmo de profissionais ou de empresas tentando vender seu trabalho. Algo compreensível em um país em que é muito difícil conseguir um bom emprego, inclusive para pessoas com todas as qualificações para trabalhar.
Mas invadir um aplicativo que deveria ser exclusivo para conversas do meu interesse, pessoais ou profissionais, é assustador. Não há como me arriscar a um golpe. Leio que, em 2024, foram notificadas mais de 390 mil fraudes envolvendo o pix, mensalmente. Doze vezes a mais do que em 2021, primeiro ano de operação desta forma de pagamento.
Somos obrigados, então, a desconfiar sempre. Sabemos, de antemão, que a Receita Federal não envia notificações por mensagem nem links em emails. Que as encomendas não estão retidas em agência dos Correios à espera de pagamento de taxas alfandegárias.
É evidente, também, que um amigo ou familiar que necessite de ajuda financeira não o fará por uma simples mensagem, pois seria o cúmulo da deselegância. No mínimo, irá nos ligar para conversar sobre o assunto.
Seguimos, então, driblando as armadilhas diárias, ao mesmo tempo que somos assediados –não há outro termo para essa prática– por aplicativos de lojas, que nos “ofertam” descontos, tentando nos fisgar para novas compras.
Sites nos quais não compramos há muito tempo, repentinamente se lembram de nós, e quase exigem que adquiramos um livro, uma roupa, um perfume ou um calçado.
E até em espaços que julgamos nossos, longe desse tiroteio comercial ou criminoso, recebemos mensagens comerciais não solicitadas. Quem forneceu nosso número de celular? Com que direito?
Nossos dados não deveriam ser armazenados e tratados de acordo com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais)? Não basta sermos incluídos nos mais diversos grupos, para receber coraçõezinhos, xícaras de café e carinhas de sono? Só falta que Donald Trump comece a nos taxar diretamente, com débito em conta-corrente. Época complicada, essa em que vivemos.
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