A microgeração distribuída de energia pode ser uma alternativa para empresas que querem reduzir sua conta de luz.
Ela pode ser realizada de duas maneiras, a primeira é a instalação de uma fonte energética no estabelecimento, como placas solares ou torre eólica, por exemplo.
A segunda é a possibilidade de comprar parte da energia de uma geradora remota. Trata-se de um modelo em que é possível escolher uma parcela da origem da eletricidade necessária para o funcionamento de um estabelecimento.
Em ambos os cenários, seja na instalação de placas fotovoltaicas ou na compra de eletricidade de uma microgeradora, não é possível por lei se desligar da rede convencional.
Ricardo Baitelo, gerente de projetos no Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), observa que uma das principais fontes energéticas em território nacional são as hidrelétricas, mas, desde o começo deste século, alternativas vêm se popularizando, como a eólica e a solar.
Segundo o especialista, as placas fotovoltaicas são as opções mais viáveis atualmente, pois podem ser instaladas em qualquer lugar do Brasil.
Entretanto, nem sempre é possível instalá-las na empresa por não haver espaço disponível no telhado ou porque o prédio é alugado, por exemplo.
Nesses casos, a segunda opção, de comprar energia de uma comercializadora, torna-se a escolha mais vantajosa.
Baitelo afirma que, para assina o serviço, é preciso pesquisar quais comercializadoras estão disponíveis na região desejada, escolher a que melhor se adapta à situação e comprar os créditos, que serão abatidos da conta de luz.
De acordo com a Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), atualmente há mais de 500 comercializadoras no Brasil.
Além da escolha da fonte elétrica, há outras dicas que os empresários podem aplicar nos negócios a fim de aumentar a economia.
Como diminuir o consumo de energia empresarial
O primeiro ponto a se considerar na economia de energia empresarial é aplicar a eficiência energética no estabelecimento, afirma Luiz Carlos Pereira da Silva, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp e diretor do Centro Paulista da Transição Energética (CPTEn).
A eficiência energética é obtida quando o consumo elétrico é otimizado para gerar menor desperdício, porém entregando os mesmos resultados ou superiores.
Quando se fala de microempresas e comércios, há uma grande gama de atuação desses estabelecimentos, mas em geral uma das primeiras ações é modernizar os eletrônicos para uma melhor eficiência.
Na conta de luz, o consumo é medido em quilowatt (kW) multiplicado pela quantidade de horas usadas. Enquanto o primeiro diz respeito à potência dos eletrônicos, o segundo mostra o tempo em que o aparelho esteve ligado.
“Há duas maneiras de fazer a eficiência energética: uma é diminuir o quilowatt, ou seja investir em equipamentos mais eficientes, a segunda forma é diminuindo o tempo de uso, uma mudança comportamental visando o uso racional de energia”, explica o especialista.
Para ambas as soluções, há práticas que podem ser adotadas para alcançar a economia.
Ambientes climatizados
Climatizar uma empresa pode gerar aumento significativo na conta de luz. Por exemplo, o professor Silva relata que na Unicamp a estimativa é que o uso de ar-condicionado representa 40% do consumo total da instituição.
Hoje, há resfriadores mais eficientes e que consomem menos que os antigos equipamentos, que, ao atingirem a temperatura desejada, desligavam e religavam quando necessário.
O ar-condicionado inverter, sistema com velocidade variada do fluxo de ar, mantém o espaço em uma temperatura mais linear, o que permite diminuir o consumo de eletricidade por não apresentar picos de energia, além de proporcionar um melhor conforto térmico às pessoas.
Para o funcionamento desses equipamentos, a recomendação é sempre isolar o ambiente.
Por exemplo, se o ar-condicionado estiver instalado em uma residência, o ideal é fechar as portas e as janelas do cômodo a ser resfriado, pois, se houver ventilação externa entrando na casa, há entrada de calor, o que pode aquecer o repartimento doméstico e sobrecarregar o ar-condicionado gerando mais gastos.
Entretanto, manter a porta fechada em estabelecimentos comerciais nem sempre é uma opção. Quando o empreendimento possui grande fluxo de pessoas, é possível ter uma porta automática que abra e feche através de sensores de movimentos, o que aumenta o isolamento térmico do local, mas ainda permite a troca de calor com o exterior.
Nesses casos, uma alternativa são as cortinas de vento, equipamentos instalados nas aberturas que projetam vento para baixo, diminuindo a troca de temperatura entre o interior e o exterior.
Similar a um ventilador, esse sistema pode ser acionado em portas automáticas ou em entradas que fiquem permanentemente abertas.
Refrigeração
“Uma geladeira muito antiga, sem manutenção adequada, pode consumir três vezes mais energia que uma geladeira eficiente”, afirma Silva, que também ressalta a importância de considerar o selo Procel nos eletrônicos.
É preciso “observar a oportunidade de deixar mais eficiente o consumo de energia através da modernização dos equipamentos. Isso envolve investimento, mas por outro lado traz economia na conta de luz”, afirma.
Estabelecimentos como mercados e padarias utilizam grandes sistemas de refrigeradores, que são abertos frequentemente pelos clientes para alcançar os produtos desejados.
Nesses casos, também é possível usar cortinas de vento para construir uma barreira entre a temperatura interna da geladeira e o exterior.
Porém há casos em que as geladeiras ficam abertas durante todo o tempo ou que não possuem cortinas de ar.
Nessas situações, a cortina de ar na saída da loja cria uma barreira protetora com o exterior e, assim, a geladeira realiza a troca de temperatura apenas com o interior do mercado, o que representa uma variação menor de temperatura e consequentemente um gasto menor de energia.
Não desligar os refrigeradores
Silva diz que, além de ocasionar a perda dos produtos armazenados, desligar a geladeira de noite ou em dias que o estabelecimento esteja fechado também aumenta o consumo.
O que acontece quando esses equipamentos são desligados é que eles ganham bastante temperatura e, ao serem religados será necessário um grande volume de energia. Nesse processo, o trabalho para recuperar a temperatura anterior torna-se maior do que o economizado ao desligá-lo.
“Você só vai deslocar o consumo de um dia para o outro”, conclui o professor.
Uma geladeira convencional em bom funcionamento fica naturalmente desligada a maior parte do tempo, porém de maneira inteligente, mantendo a temperatura interna dentro de uma faixa adequada.
Em geladeiras modernas esse recurso é mais eficiente. Igual ao ar-condicionado, há refrigeradores com tecnologia inverter, que não desligam ao atingirem a temperatura desejada, apenas diminuem a velocidade do compressor.
“Quando a temperatura está bem ajustada, esse compressor vai ficar girando em velocidade bem baixa, então vai consumir pouquinha energia só para manter a temperatura”, afirma Silva.
Evitar sobrecarga elétrica
A sobrecarga acontece quando há excesso de equipamentos ligados em um sistema elétrico, extrapolando o limite para o qual foi projetado. Por exemplo, o uso de adaptadores para ligar diversos aparelhos em uma única tomada.
Essa prática pode causar incêndios, derreter os pontos de contato, aquecer as tomadas e condutores, o que resulta em aumento de perda de energia.
A voltagem instalada no imóvel também influencia na economia. A tensão elétrica no Brasil varia entre 100V, 127V e 220V. Silva explica que nos equipamentos de menor potência, sistemas de 127V ou 110V são suficientes, porém em aparelhos de maior potência o mais indicado é trabalhar com 220V.
A recomendação é porque os condutores elétricos são dimensionados para aguentarem a passagem de determinada corrente e, caso um aparelho necessite de mais potência que a projetada no sistema, a corrente será mais alta, aquecendo os dois e também aumentando o consumo de energia.
“Se a potência é muito grande, é melhor trabalhar com a maior tensão possível para que a corrente seja baixa. A corrente é o que aquece, o que produz perdas, o que pode derreter os equipamentos”.
Sendo assim, “para equipamentos menores, de dezenas de watts, você pode utilizar tomadas de 110 volts. Para equipamentos da ordem de mil, 2.000 ou mais watts, como chuveiros elétricos, você pode utilizar tomadas bifásicas de 220 volts porque você terá um desempenho melhor”, conclui o professor.
Medição de energia
“Hoje temos uma visão muito turva do nosso consumo de energia, porque a gente só recebe uma medição mensal na conta de luz no valor total que temos que pagar. A gente não sabe onde é que está utilizando energia dentro da nossa instalação”, diz Silva, que explica que ter consciência da origem dos gastos contribui para a economia, pois é possível identificar problemas na rede, em equipamentos e alterar os hábitos de consumo.
O especialista apresenta três soluções para combater esse problema, são elas:
- Tomadas inteligentes: instaladas diretamente nos interruptores, elas permitem controlar remotamente a entrada de energia, além de informar as horas de atividade e a quantidade de eletricidade usada. “Você pode comparar o consumo desses equipamentos com os valores específicos nos manuais para entender se eles estão consumindo mais que o previsto”. Caso haja alguma discrepância, é possível realizar a manutenção ou até a troca do aparelho.
- Disjuntores inteligentes: assim como as tomadas, o disjuntor inteligente também pode medir o tempo e consumo de energia, porém de todo o sistema ligado a ele e não apenas de um plugue.
- Medidor inteligente geral: por último, há opções que fazem uma leitura geral do edifício além do medidor da concessionária. Nesse caso, ele servirá para entregar dados mais detalhados da energia utilizada. Por exemplo, se, mesmo que o estabelecimento esteja fechado, o leitor indicar que há um alto consumo, pode ser que haja algum problema, o que interfere diretamente nos valores da conta.
“Se a sua conta de luz é muito cara, vale a pena investir um pouco para melhorar o seu monitoramento e gerenciamento”, pois isso proporciona um melhor controle, conclui o professor.
Horário de ponta
Michelle Vaz de Melo, analista do Sebrae do Rio (Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Estado do Rio de Janeiro), explica que há variação do valor da energia constantemente, mas que no horário de ponta esse valor “pode chegar até três vezes mais” que o cobrado em outros momentos.
Trata-se de uma prática no qual a energia é mais cara em momentos de alto consumo generalizado, principalmente no final da tarde e primeiro período da noite.
Segundo Melo, em alguns casos é possível adequar os hábitos de consumo para diminuir os gastos nos horários em que a energia é mais cara.
“Um salão de beleza não consegue não ligar o secador em um horário de ponta, mas ele consegue se programar para esterilizar os alicates na autoclave no início da manhã em vez de no final do dia”, diz a especialista.
A especialista ainda diz que essas são apenas alguns exemplos e que “tendo o conhecimento e a informação, o empresário pode otimizar e até mesmo inovar os processos”, conclui.
Iniciativa do Sebrae
O Sebrae do Rio está com uma iniciativapara ajudar as micro e pequenas empresas a reduzirem o consumo da conta de luz a partir de ema consultoria detalhada do negócio.
O prazo de inscrição é até 1º de novembro ou enquanto houver vaga. Ao todo são 800 vagas e, até o momento, 210 empresas inscritas que se enquadram nos critérios já começaram a ser atendidas.
Para se inscrever basta ter o CNPJ registrado no Rio e entrar em contato com a entidade.
Empresas de outros estados também podem se consultar com o Sebrae, a analista explica que basta acionar o Sebrae regional da micro ou pequena empresa e conferir os serviços oferecidos.