A depressão pós-parto afeta cerca de 1 a cada 7 mulheres que dão à luz, mas pouco se sabe sobre o que acontece no cérebro das grávidas que passam pela condição. Um novo estudo, no entanto, promete dar um novo panorama.
Pesquisadores examinaram atividades cerebrais de dezenas de mulheres nas semanas anteriores e posteriores ao parto. O estudo constatou que duas áreas do cérebro envolvidas no processamento e controle das emoções aumentaram de tamanho em mulheres que desenvolveram sintomas de depressão pós-parto.
Os resultados, publicados na revista Science Advances, constituem algumas das primeiras evidências de que a depressão pós-parto está associada a alterações no cérebro durante a gravidez.
Pesquisadores descobriram que mulheres com sintomas de depressão no primeiro mês após o parto tiveram aumento no volume da amígdala, uma área do cérebro que desempenha um papel fundamental no processamento emocional. Aquelas que classificaram sua experiência de parto como difícil ou estressante —uma percepção que é frequentemente associada à depressão pós-parto— também mostraram aumento no volume do hipocampo, uma área que ajuda a regular as emoções.
“Este é realmente o primeiro passo para tentar entender como o cérebro muda em pessoas que têm um curso normal de gravidez e depois naquelas que sofrem de depressão perinatal, e o que podemos fazer a respeito”, explica Sheila Shanmugan, professora assistente de psiquiatria, obstetrícia-ginecologia e radiologia na Universidade da Pensilvânia, que não estava envolvida no estudo.
“As grandes conclusões são sobre como existem essas mudanças cerebrais profundas durante a gravidez e como agora estamos vendo isso especificamente nos circuitos da depressão”, completa.
O estudo foi conduzido em Madri por uma equipe que liderou esforços para documentar os efeitos da gravidez no cérebro. Ele faz parte de um crescente corpo de pesquisa que descobriu que certas redes cerebrais, especialmente aquelas envolvidas no processamento social e emocional, encolhem durante a gravidez, possivelmente passando por um processo de ajuste fino em preparação para a parentalidade. Tais mudanças correspondem a picos nos hormônios da gravidez, especialmente o estrogênio, e alguns duram pelo menos dois anos após o parto, descobriram os pesquisadores.
O novo estudo parece ser o primeiro a escanear e comparar áreas do cérebro durante a gravidez e após o parto e relacionar as mudanças à depressão pós-parto, afirma Elseline Hoekzema, neurocientista que chefia o Laboratório de Gravidez e Cérebro do Centro Médico da Universidade de Amsterdã e não estava envolvida no estudo.
Os autores do estudo e outros pesquisadores disseram que não estava claro se o aumento do volume na amígdala e no hipocampo causava sintomas depressivos e percepções de estresse durante o parto ou se as mudanças cerebrais estavam ocorrendo em resposta aos sintomas e estressores. Também não estava claro nas varreduras cerebrais por que algumas mulheres pareciam ser mais vulneráveis a esses sintomas do que outras.
“Pode ser que aquelas pessoas cuja amígdala é mais suscetível a mudanças também estejam em maior risco de sofrer depressão pós-parto”, diz Susana Carmona, neurocientista que lidera o Laboratório Neuromaternal no Instituto de Investigación Sanitaria Gregorio Marañón em Madri e é autora sênior do estudo. “Também pode ser o contrário”, completa, “que de alguma forma esses sintomas de depressão produzem um aumento no volume da amígdala”.
Os pesquisadores estudaram 88 mulheres grávidas que não tinham dado à luz anteriormente e que não tinham histórico anterior de depressão ou outras condições neuropsiquiátricas. Para um grupo de controle, eles também observaram 30 mulheres que não estavam grávidas. As gestantes passaram por exames cerebrais durante o terceiro trimestre e cerca de um mês após darem à luz.
As mulheres preencheram questionários padrões para avaliar se tinham sintomas de depressão pós-parto. Após o parto, 15 mulheres apresentaram sintomas moderados de depressão, e outras 13 apresentaram sinais sérios o suficiente para justificar a busca por ajuda médica, afirma Carmona.
As mulheres também preencheram questionários sobre perceber sua experiência de parto como difícil. Estudos anteriores mostraram que “uma experiência negativa de parto está associada a aumentos nas pontuações de depressão”, afirma Carmona. Segundo ela, experiências difíceis de parto não eram necessariamente partos desafiadores do ponto de vista médico, mas poderiam ser procedimentos descomplicados que as mulheres percebiam como estressantes devido a fatores como funcionários rudes do hospital.
Laura Pritschet, pesquisadora de pós-doutorado em psiquiatria na Universidade da Pensilvânia que não estava envolvida no estudo, chamou os resultados de “realmente fascinantes”, acrescentando que eles apontam o caminho para pesquisas futuras “tentando descobrir quais áreas do cérebro estão mudando mais em relação a uma variedade de resultados após o parto, como humor, ansiedade, depressão”.
Pritschet, que escreveu um artigo com Shanmugan na mesma edição do periódico que defende pesquisas para determinar assinaturas cerebrais individualizadas de depressão perinatal, afirma que as descobertas do novo estudo ajudam a identificar um roteiro para, eventualmente, melhorar a previsão, o diagnóstico e o tratamento da depressão pós-parto.
“Se rotineiramente mostramos que certas áreas do cérebro estão implicadas, o que fazemos? Como podemos intervir precocemente?”, diz. “Qual é a quantidade normal de mudança? Por que essa área pode ser vulnerável? Muitas perguntas interessantes para fazer a seguir.”