O dólar teve forte alta nesta sexta-feira (28), após Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT, ser anunciada como a nova ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais).
Investidores repercutiram também o bate-boca entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e seu correspondente ucraniano, Volodimir Zelenski, a inflação americana de janeiro e eventuais efeitos dos planos tarifários de Trump, enquanto se prepara para dois dias sem pregão no Brasil por conta do Carnaval.
A moeda norte-americana encerrou as negociações em alta de 1,47%, a R$ 5,9153. Na semana, subiu 3,25% e, no mês, 1,37%. No ano, recua 4,28%.
No mercado internacional, o índice DXY, que mede a força do dólar ante as principais moedas globais subia 0,3%, a 107,62 pontos, em um sinal de busca de investidores por proteção no dólar.
O Ibovespa, por sua vez, recuou 1,6%, a 122.799 pontos. No ano, o índice acumula alta de 1,87%. Em fevereiro, porém, houve desvalorização de 2,6%. Na semana, houve queda de 3%.
A aversão à risco ganhou força com a oficialização da indicação de Gleisi para a SRI do governo Lula, pasta responsável pela articulação política do governo, no início da tarde.
“A ida de Gleisi para a articulação política é bem ruim, por alguns motivos. Primeiro porque ela faz parte da área mais radical e retrógrada do PT, sem compromisso com o ajuste fiscal. E esse é o principal problema macroeconômico do Brasil hoje”, diz Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos.
Além das críticas de Gleisi à contenção de gastos, investidores se preocupam com sua capacidade de articulação com outros partidos.
“O mercado fica em alerta, com as pessoas se perguntando se esse realmente era o melhor nome, principalmente porque o que o investidor espera nesse momento um nome mais conciliador”, diz Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos.
As taxas dos juros futuros também subiram após a indicação. A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 fechou 14,98%, ante o 14,8% da sessão anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 ficou em 15,055%, em alta de 0,23 ponto percentual.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 15,13%, ante 14,818% da véspera e o contrato para janeiro de 2033 terminou em 15,09%, ante 14,803%.
A discussão entre Trump e Zelensky, por sua vez, levou o preço do barril de petróleo Brent a recuar 0,57%, a US$ 73,15.
Investidores consideram que o conflito na Ucrânia pode estar perto do fim, caso os EUA parem de apoiar os ucranianos.
“Ou vocês fazem um acordo, ou estamos fora, e se estivermos fora, vocês vão lutar. Não acho que vai ser bonito”, disse Trump ao ucraninano nesta sexta.
Em Wall Street, os principais índices acionários fecharam em alta. O S&P 500 e o Nasdaq subiram 1,6% cada um. O Dow Jones teve alta de 1,4%. Já os juros dos títulos do Tesouro dos EUA recuaram. A taxa do Treasury de dez anos, referência global para decisões de investimento, a cedeu de 4,29% para 4,24%.
Investidores também repercutiram os dados do PCE, índice inflacionário americano. Os preços nos EUA tiveram um avanço 0,3% em janeiro, com o acumulado em 12 meses desacelerando para 2,5%, de 2,6% em dezembro.
“A leitura traz um pouco mais de calma aos investidores, com todas as métricas em linha com o consenso, mas os dados ainda não são significativamente suficientes para atestar que, fundamentalmente, há suporte para que o Fed mude de postura e abandone a cautela para cortar juros”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Segundo o economista, os impactos tarifários de Trump ainda são incertos para a leitura futura do índice. Na quinta (27), o presidente disse que as tarifas de 25% sobre Canadá e México e uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses, elevando o total para 20%, entrarão em vigor em 4 de março, afastando expectativas de um adiamento para as medidas.
“O anúncio trouxe um pouco mais de pessimismo e aversão ao risco. Os investidores continuam apostando que, no final das contas, alguma coisa deve ser negociada entre os países de forma a aliviar ou até mesmo cancelar as tarifas de importação”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“A confirmação foi uma clara mensagem para o mercado de que as tarifas estão a caminho e que não devem ser subestimadas”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Apesar da possível pressão inflacionária das tarifas, o mercado precifica o primeiro corte de juros no mês de junho. Nas últimas semanas, apontava maior probabilidade de ser em julho.
Nesta semana, os investidores também repercutiram a divulgação de dados do desemprego no Brasil e a confirmação de tarifas de importação por parte dos Estados Unidos contra o México e o Canadá, além de taxas adicionais contra a China.
Na quinta, o dólar voltou a subir e retomou o patamar de R$ 5,80 pela primeira vez desde 3 de fevereiro, encerrando a sessão em forte alta de 0,56%, cotado a R$ 5,829.
Também na véspera, as ações da Petrobras caíram 3,53%, após a estatal obter lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024 —uma queda de 70% em relação a 2023. Nesta sexta, a queda foi de 1,85%, a R$ 35,93.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego ficou em 6,5% no trimestre até janeiro no Brasil. A taxa é a menor para os trimestres até janeiro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
Já os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) mostraram que o Brasil abriu 137,3 mil vagas formais de trabalho em janeiro, bem acima das 48 mil vagas esperadas por economistas consultados pela agência de notícias Reuters.
A força do mercado de trabalho preocupa economistas pelo seu impacto na inflação, que está fora da meta. Isso pode significar a permanência dos juros em patamares elevados.
A perspectiva de uma inflação mais alta para 2025 e 2026 veio destacada no último boletim Focus. É a 19ª semana seguida que analistas consultados pelo Banco Central elevam as previsões. A expectativa é de que a inflação suba do patamar de 5,60% para 5,65% ao fim deste ano, e de 4,35% para 4,40%, no próximo ano.
A prévia da inflação, o IPCA-15, acelerou a 1,23% em fevereiro, acumulando alta de 4,96% em 12 meses, bem acima do centro da meta perseguida pelo BC de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Entre os fatores que podem pressionar a inflação está a liberação de R$ 12 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e o pagamento do programa Pé-de-Meia, iniciado nesta terça.
Nos últimos dias, o mercado ainda tem sinalizado maior nervosismo de que a recente queda de popularidade do governo Lula possa levar à adoção de medidas que piorem ainda mais a situação das contas públicas.
Com Reuters