A instituição de vida assistida em Edina, Minnesota, para onde Jean H. Peters e seus irmãos levaram sua mãe em 2011, parecia ótima. “Mas então você começa a descobrir coisas”, diz Peters.
Sua mãe, Jackie Hourigan, viúva e com problemas de memória aos 82 anos, frequentemente ainda estava na cama quando os filhos a visitavam no meio da manhã.
“Ela não era levada ao banheiro, então suas calças ficavam encharcadas”, conta Peters, 69, uma enfermeira aposentada de Bloomington, Minnesota. “Não lhe davam água. Não a levavam para as refeições.” Ela emagreceu até 43 quilos.
Mais alarmante, segundo Peters, “notamos hematomas em seu braço que não conseguíamos explicar”. Reclamações aos administradores —pessoalmente, por telefone e por email —resultaram em “muitas desculpas”.
Então, Peters comprou uma câmera barata na Best Buy. Ela e suas irmãs a instalaram em cima da geladeira no apartamento da mãe, preocupadas que a instituição pudesse expulsá-la se a equipe notasse.
Monitorando por um aplicativo no telefone, a família viu Hourigan passar horas sem ser trocada. Viram e ouviram uma cuidadora repreendê-la alto e manuseá-la com força ao ajudá-la a se vestir.
Observaram outra cuidadora acordá-la para o café da manhã e sair do quarto, mesmo sabendo que Hourigan não conseguia abrir a pesada porta do apartamento para ir ao refeitório. “Foi traumático descobrir que estávamos certos”, diz Peters.
Em 2016, após registrar um boletim de ocorrência e entrar com uma ação judicial, e depois da morte de sua mãe, Peters ajudou a fundar a Elder Voice Advocates, que pressionou por uma lei estadual permitindo câmeras nos quartos de residentes de casas de repouso e instituições de vida assistida. Minnesota aprovou a lei em 2019.
Embora ainda sejam polêmicas , as câmeras em instituições de cuidados estão ganhando espaço. Até 2020, oito estados haviam seguido Minnesota e aprovado leis permitindo-as, segundo a National Consumer Voice for Quality Long-Term Care: Illinois, Kansas, Louisiana, Missouri, Novo México, Oklahoma, Texas e Washington.
O ritmo legislativo acelerou desde então, com mais nove estados aprovando leis: Connecticut, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nevada, Ohio, Rhode Island, Utah, Virgínia e Wyoming. Projetos de lei estão em tramitação em vários outros.
Califórnia e Maryland adotaram diretrizes, não leis. Os governos estaduais de Nova Jersey e Wisconsin emprestam câmeras a familiares preocupados com a segurança de seus entes queridos.
Mas alguns projetos de lei também foram rejeitados, mais recentemente no Arizona. Em março, pelo segundo ano consecutivo, um projeto de lei sobre câmeras foi aprovado na Câmara dos Representantes por ampla margem, mas não chegou a ser votado no plenário do Senado estadual.
“Estou um pouco irritado no momento”, diz o deputado estadual Quang Nguyen, republicano e principal autor do projeto, que planeja reintroduzi-lo. Ele culpa a oposição de grupos da indústria, incluindo a LeadingAge, que representa provedores sem fins lucrativos de serviços para idosos, pelo fracasso da lei.
A American Health Care Association, cujos membros são principalmente provedores de cuidados de longo prazo com fins lucrativos, não tem uma posição nacional sobre câmeras. Mas sua afiliada local também se opôs ao projeto.
“Essas pessoas que votaram contra deveriam ser expostas publicamente e dizer: ‘Vocês não se importam com a população idosa'”, diz Nguyen.
Algumas leis sobre câmeras cobrem apenas casas de repouso, mas a maioria inclui instituições de vida assistida. A maior parte exige que o residente (e colegas de quarto, se houver) dê consentimento por escrito. Algumas exigem placas alertando a equipe e visitantes de que suas interações podem ser gravadas.
As leis geralmente proíbem adulterar câmeras ou retaliar residentes que as usam e incluem “alguma discussão sobre quem tem acesso às gravações e se podem ser usadas em processos judiciais”, acrescenta Lori Smetanka, diretora executiva da National Consumer Voice.
Não está claro o quanto as instituições levam essas leis a sério. Vários familiares entrevistados relataram que administradores disseram que câmeras não eram permitidas, mas nunca mais tocaram no assunto. As câmeras instaladas nos quartos permaneceram.
Por que esse aumento legislativo? Durante a pandemia de Covid, as famílias ficaram meses sem acesso às instituições, observa Smetanka. “As pessoas querem ver seus entes queridos.”
Mudanças na tecnologia também contribuíram, já que os americanos se familiarizaram mais com videoconferências e assistentes virtuais. Câmeras se tornaram quase onipresentes — em espaços públicos, locais de trabalho, viaturas policiais, uniformes de agentes e até nos bolsos das pessoas.
Inicialmente, a pressão por câmeras refletia medos sobre a segurança dos entes queridos. A família de Kari Shaw, por exemplo, já havia sido vítima de uma enfermeira de confiança que roubou os analgésicos prescritos para sua mãe.
Por isso, quando Shaw, que mora em San Diego, e suas irmãs levaram a mãe para uma instituição de vida assistida em Maple Grove, Minnesota, imediatamente instalaram uma câmera com sensor de movimento no apartamento dela.
Sua mãe, de 91 anos, tem graves deficiências físicas e usa cadeira de rodas. “Por que esperar que algo aconteça?”, diz Shaw.
Principalmente, “pessoas com demência estão em alto risco”, acrescenta Eilon Caspi, gerontólogo e pesquisador de maus-tratos a idosos. “E elas podem não ser capazes de relatar incidentes ou lembrar detalhes.”
Mais recentemente, porém, famílias estão usando câmeras simplesmente para manter contato.
Anne Swardson, que mora na Virgínia e na França, usa um Echo Show para visitas por vídeo com sua mãe, de 96 anos, em cuidados de memória em Fort Collins, Colorado. “Ela não consegue apertar botões, mas essa tela simplesmente liga”, diz Swardson.
Art Siegel e seus irmãos tinham dificuldade para falar com a mãe, de 101 anos, em uma instituição de vida assistida na Flórida: seu telefone portátil frequentemente descarregava porque ela esquecia de carregá-lo. “Era preocupante”, diz Siegel, que mora em San Francisco e precisava ligar para a instituição e pedir que a equipe a verificasse.
Agora, com um telefone tradicional instalado perto de sua cadeira favorita e uma câmera apontada para ela, eles sabem quando ela está disponível para conversar.
Enquanto o debate sobre câmeras continua, uma pergunta central permanece sem resposta: elas melhoram a qualidade dos cuidados? “Não há nenhuma pesquisa citada para respaldar esses projetos de lei”, diz Clara Berridge, gerontóloga da Universidade de Washington que estuda tecnologia em cuidados para idosos.
“As câmeras realmente impedem abusos e negligência? Elas fazem com que a instituição mude suas políticas ou melhore?”
Tanto opositores quanto defensores das câmeras citam preocupações com a privacidade e a dignidade dos residentes em um ambiente onde são ajudados a se lavar, vestir e usar o banheiro.
“Considere também a importância de garantir privacidade durante visitas relacionadas a questões espirituais, legais, financeiras ou outras pessoais”, diz Lisa Sanders, porta-voz da LeadingAge, em um comunicado.
Embora as câmeras possam ser desligadas, provavelmente não é prático esperar que residentes ou uma equipe sobrecarregada façam isso.
Além disso, a vigilância pode tratar os funcionários como “suspeitos que precisam ser dissuadidos de comportamentos ruins”, diz Berridge. Ela já viu instituições instalando câmeras em todos os quartos dos residentes: “Todos vivem sob vigilância. É isso que queremos para nossos idosos e nossos futuros eu?”
No fim das contas, dizem especialistas, mesmo quando as câmeras detectam problemas, elas não substituem melhorias nos cuidados que os evitariam — um esforço que exigirá envolvimento das famílias, melhor equipe, treinamento e monitoramento por parte das instituições, e fiscalização mais ativa dos governos federal e estadual.
“Vejo as câmeras como um sintoma, não uma solução”, diz Berridge. “É um curativo que pode distrair do problema mais difícil: como fornecer cuidados de longo prazo de qualidade.”
Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.