O presidente Lula escolheu um momento ruim para liberar os recursos retidos do FGTS do trabalhador que foi demitido e tinha optado pelo saque-aniversário.
Ainda que o governo reúna justificativas para liberar o dinheiro, beneficiando 12,1 milhões de trabalhadores, a percepção que se espalha é a de que Lula está fazendo uma inflexão de política econômica. Pronto para acionar novos botões na tentativa de evitar um tombo maior do PIB.
A liberação de R$ 12 bilhões não é do tamanho que se esperava quando a decisão foi antecipada pela Folha. Nem uma medida muito diferente das que foram lançadas por Michel Temer e Jair Bolsonaro, sem tanto alarde do mercado financeiro como agora com Lula.
O que preocupa mesmo é o conjunto da obra. Uma medida aqui e outra ali, que juntas podem atrapalhar o trabalho do Banco Central. É o somatório. Todo um governo voltado para apertar os botões de novas medidas de estímulo. Ainda não se sabe o alcance da potência do novo crédito consignado a ser lançado após o Carnaval. Embora positivo, o consignado pode surpreender e prejudicar o combate à inflação.
O presidente poderia ter esperado uns meses para liberar o FGTS. Até porque não está claro ainda o nível de desaceleração do PIB. Nos bastidores, o BC manifesta preocupação com esses estímulos da economia.
Com a pressa do FGTS, o governo demonstra estar errático na ação de medidas para conter a inflação e evitar que os juros permaneçam altos por mais tempo. Uma hora Lula sinaliza que está convencido de que o BC precisa esfriar a economia para controlar a inflação e, depois, corre para anunciar uma medida que representa consumo na veia.
Há apenas um mês o presidente gravou um vídeo reconhecendo que o aquecimento da economia era uma causa da inflação. Lula quer aquecer mais?
O risco para Lula é estimular exatamente o maior problema hoje para a queda da sua popularidade, a alta dos preços.
O momento é de paciência. É hora de colocar todo o governo para segurar a inflação.
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