A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,64% em março, após marcar 1,23% em fevereiro, apontam dados divulgados nesta quinta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro, que era de 0,69%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,6% a 1%.
No acumulado de 12 meses, porém, o IPCA-15 acelerou a 5,26% até março, após marcar 4,96% até fevereiro. Nesse recorte, a mediana das projeções estava em 5,3%.
A alta de 5,26% é a maior desde o acumulado até março de 2023 (5,36%). A taxa está distante do teto da meta de inflação de 4,5% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2025.
Na leitura mensal, a desaceleração do IPCA-15 está associada a fatores como a trégua da energia elétrica residencial.
A conta de luz teve variação de 0,43% em março, após avançar 16,33% na divulgação anterior. Em fevereiro, os preços haviam sofrido impacto do fim do desconto pontual do bônus de Itaipu.
Com o alívio da energia, o grupo habitação registrou variação de 0,37% em março. É uma alta bem menos intenso do que a verificada na leitura anterior (4,34%).
Outro grupo a desacelerar foi educação, com taxa de 0,07% em março. O segmento havia subido 4,78% em fevereiro com os reajustes sazonais das mensalidades escolares.
Por outro lado, o grupo alimentação e bebidas ganhou força, gerando o principal impacto sobre o IPCA-15 (0,24 ponto percentual). A alta dos preços alcançou 1,09% em março, após variação de 0,61% na leitura anterior.
Contribuíram para o novo resultado as altas do ovo de galinha (19,44%), do tomate (12,57%), do café moído (8,53%) e das frutas (1,96%). No sentido contrário, alimentos como o arroz (-1,6%) caíram de preço.
Entre os grupos, outra pressão em março veio dos transportes. O segmento acelerou a 0,92%, após marcar 0,44% em fevereiro.
O IBGE disse que o destaque nos transportes foi o comportamento dos combustíveis (1,88%). Houve altas nos preços do óleo diesel (2,77%), do etanol (2,17%), da gasolina (1,83%) e do gás veicular (0,08%).
Os transportes geraram um impacto de 0,19 ponto percentual no IPCA-15 de março. Foi o segundo maior entre os grupos, atrás apenas de alimentação e bebidas (0,24 ponto percentual).
Individualmente, a gasolina foi responsável pelo principal impacto (0,1 ponto percentual). Ovo de galinha, café moído e passagem aérea apareceram na sequência (0,05 ponto percentual cada).
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA, o índice oficial do país. O IPCA serve de referência para a condução da política monetária do BC (Banco Central).
Há diferenças no período de coleta dos dados. No IPCA-15, o levantamento dos preços atravessa a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência. No caso do índice de março, o trabalho foi de 13 de fevereiro a 17 de março.
Já a coleta de preços do IPCA fica concentrada no mês de referência da pesquisa. Em outras palavras, contempla um “mês cheio”. Assim, o resultado de março ainda não está fechado. Será publicado pelo IBGE em 11 de abril.
Na mediana, as previsões do mercado apontam alta de 5,65% para o IPCA ao fim de 2025, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (24). A estimativa está distante do teto da meta de inflação (4,5%).
Em 2025, o BC passa a perseguir o alvo de maneira contínua, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro).
No novo modelo, a meta será considerada descumprida quando a variação acumulada pelo IPCA permanecer por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro do alvo é 3%.
Em uma tentativa de conter a inflação e ancorar as expectativas, o BC vem subindo a taxa básica de juros, a Selic, que avançou na semana passada a 14,25% ao ano. O mercado espera que a taxa feche 2025 em 15%, segundo o Focus.
A elevação dos juros tende a esfriar a demanda por bens e serviços, o que pode conter os preços. O efeito colateral esperado é a desaceleração da economia, porque o custo do crédito fica mais caro para consumo e investimentos produtivos.
Ao longo dos últimos meses, a inflação dos alimentos virou dor de cabeça para o governo Lula (PT). A carestia é apontada como uma das principais razões da queda de popularidade do presidente.
Pressionado, o governo zerou a alíquota de importação de um grupo de alimentos. Analistas e produtores, contudo, disseram que a medida terá impacto limitado para conter a inflação.
Lula chegou a dizer neste mês que o governo trabalha para descobrir quem é o “pilantra” que teria provocado o aumento do ovo. Especialistas dizem que o produto ficou mais caro devido a uma combinação de fatores —e não a um suposto culpado.
A lista inclui demanda maior com a volta às aulas no país, exportações impulsionadas por problemas de gripe aviária nos Estados Unidos e calor intenso no Brasil. Altas temperaturas prejudicam a produção das galinhas.