O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou neste sábado (1º), durante seu discurso na abertura anual do Congresso, que a “motosserra”, como costuma chamar seu plano de cortes radicais no gastos da máquina pública, “é um símbolo de uma mudança de época” que “continuará por anos”.
“A motosserra hoje é um símbolo de uma mudança de época, o início de uma nova era dourada para a humanidade, mas desta vez, em vez de ir na contramão do mundo, a Argentina está na vanguarda do mundo”, disse.
Ele considerou que “os olhos do mundo hoje estão voltados para a Argentina” e que “em alguns casos até tomam nota” do que foi feito por sua gestão “para aplicá-lo em seus próprios países, como está fazendo Elon Musk à frente da pasta de desregulamentação dos Estados Unidos”.
Em um discurso carregado de dados econômicos e críticas à oposição, ele também disse que “a motosserra não é apenas um programa de governo, é uma política de Estado que continuará por anos e não parará até que encontre o fim do Estado a longo prazo”.
Afirmou ainda que a Argentina está perto de chegar a um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que permitiria “eliminar neste ano” os controles cambiais.
O presidente reiterou sua vontade de chegar a um acordo comercial com os Estados Unidos e disse que, para isso, “é necessário estar disposto a flexibilizar ou até mesmo, se for o caso, sair do Mercosul, que a única coisa que conseguiu desde sua criação foi enriquecer os grandes industriais brasileiros à custa de empobrecer os argentinos”.
Durante a primeira metade de seu discurso de 45 minutos, Milei revisou a herança recebida e qualificou seu programa econômico como “o mais bem-sucedido” até o momento. “Reduzimos a inflação a uma velocidade sem precedentes”, disse.
Celebrou a demissão de 40 mil funcionários públicos, a eliminação do instituto de cinema (INCAA), do Ministério da Mulher, do Instituto contra a Discriminação e da agência de notícias estatal Télam, aos quais qualificou como “caixas de militância”.
Disse ainda que eliminou obras públicas porque era “uma das fraudes da política” e convidou a “erradicar a mentira de que a obra pública gera trabalho”, ao assegurar que na realidade “gera impostos”.
Também prometeu impulsionar uma modificação do sistema trabalhista e uma “reforma tributária estrutural” para passar a ter “apenas seis impostos”, assim como uma “profunda reforma migratória”.
O anúncio referente à reforma trabalhista ocorre no mesmo dia em que o sindicato dos trabalhadores estatais denunciou uma nova onda de quase 3.000 demissões no setor público e após a perda de 200 mil postos de trabalho em 2024.
Criptogate
O discurso foi interrompido em várias ocasiões por aplausos, que por momentos se assemelhou a um ato partidário, diante da ausência da grande maioria dos deputados e senadores da oposição e a presença de apenas seis dos 24 governadores provinciais.
Os deputados do bloco opositor União pela Pátria (centro-esquerda) lançaram um comunicado antes do discurso no qual enumeraram entre os motivos de sua ausência “a criptofraude de Milei” e os “juízes da Corte nomeados por decreto”.
O denominado “criptogate” que abala o universo político argentino começou em 14 de fevereiro, quando o presidente promoveu, segundo ele “de boa fé”, uma criptomoeda que em duas horas colapsou com perdas milionárias.
O caso chegou nesta semana à capa da revista Forbes, que o qualificou como “o maior roubo cripto da história”, agora investigado pela justiça argentina e americana.
Milei referiu-se indiretamente à questão neste sábado: “O banco central roubou dos argentinos US$ 110 bilhões. Venham agora falar de esquema de pirâmide”, disse, antes de afirmar que o Tesouro usará o eventual desembolso do FMI “para pagar sua dívida com o Banco Central”.
Nesta semana, em meio ao escândalo cripto, Milei nomeou dois juízes da Corte Suprema por decreto, medida repudiada por quase toda a oposição. Nesta sexta-feira, ele apontou seus canhões contra o governador opositor da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, ao sugerir que renunciasse por problemas com a segurança pública.
Milei também reiterou neste sábado sua proposta de baixar a idade de imputabilidade e aumentar as penas e voltou a apontar para o governador. “Se Kicillof quer resolver o problema, tem duas alternativas: abandonar essa visão abolicionista e punir os criminosos; ou sair do caminho e nos deixar resolver o problema”, disse.