Quando Gilda Bandeira de Mello, 87, posta uma foto em sua rede social, ela não recebe comentários de homens de sua idade, e sim dos mais novos. “Talvez seja porque tenho um espírito jovem e gosto muito da vida”, diz. Criadora de conteúdo na página Avós da Razão, ela conta que há cerca de quatro anos passou a usar mais o Instagram para conhecer pessoas. Seu último relacionamento foi com um homem 20 anos mais jovem. “Foi uma troca interessante. Sempre tínhamos assunto e conversas enriquecedoras.”
Um estudo de 2023 publicado na revista acadêmica Sexual and Relationship Therapy mostrou que mulheres que namoram homens mais novos possuem níveis maiores de inteligência emocional, autoeficácia sexual e felicidade subjetiva do que as aquelas que se relacionam com homens da mesma idade.
Nessas relações as mulheres não são apenas mais velhas, muitas vezes elas desfrutam de status profissional e financeiro. Exemplos famosos não faltam. É o caso de Tatá Werneck e Rafael Vitti, que têm 12 anos de diferença; Sabrina Sato e Nicholas Prattes, com 17 anos; e o presidente da França, Emmanuel Macron, e Brigitte Macron, 24 anos mais velha que o marido.
A antropóloga e colunista da Folha Mirian Goldenberg chama de “casais invertidos” os pares que rompem a lógica social que costuma colocar o homem mais velho em posição de superioridade, alguém também mais bem-sucedido. Goldenberg, que pesquisa casamentos e relacionamentos amorosos desde 1990, aborda essa dinâmica em seu livro “Por que os Homens Preferem as Mulheres Mais Velhas?”, publicado em 2017.
Para sua pesquisa, Goldenberg entrevistou 52 casais com relacionamentos duradouros e grandes diferenças de idade. O que lhe chamou a atenção, ela diz, foi a forma como os homens enxergavam suas companheiras. “Eles as veem como superiores. Não pela idade, e sim por serem mais compreensivas, inteligentes, divertidas e bem-sucedidas”, diz.
Daniella Bastos, 46, conta que sente isso em seu relacionamento com um rapaz de 22 anos. “Ele me trata como uma rainha”, afirma a professora de língua portuguesa do ensino médio.
Após um casamento de 15 anos, no qual teve dois filhos, Daniella se divorciou em 2019. Seu primeiro relacionamento após o divórcio foi com um rapaz 17 anos mais novo, algo inesperado para ela. A relação durou até o final de 2023.
Depois dessa experiência positiva, decidiu buscar em um aplicativo de relacionamento parceiros mais jovens que tivessem entre 18 e 35 anos. Foi assim que conheceu seu atual namorado, um tenente da Marinha recém-chegado a Brasília. Inicialmente ele afirmou ter 31 anos, mas depois revelou sua verdadeira idade, 22. E explicou que mentiu porque gosta de mulheres mais velhas. Oficializaram o namoro em outubro.
Estudo publicado recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) analisou a relação entre idade e desejo romântico em encontros às cegas entre pessoas que buscavam parceiros de longo prazo. A pesquisa revelou que tanto homens como mulheres tendem a se sentir mais atraídos por parceiros mais jovens.
“Essa preferência pela juventude entre as mulheres pode surpreender, pois, tradicionalmente, os homens costumam ser mais velhos nos relacionamentos. Além disso, muitas mulheres dizem preferir parceiros mais velhos”, afirma Paul Eastwick, professor de psicologia da UC Davis e autor do estudo, realizado com participantes de 22 a 85 anos de idade.
Para a psicóloga e sexóloga Laís Malquíades, especialista em saúde sexual e emocional, essa preferência tem raízes socioculturais. “A juventude traz uma associação com virilidade e disposição.”
Daniella Bastos avalia seu relacionamento como leve e interessante. “Meu namorado tem sede de viver, e isso tem sido maravilhoso para mim, trazendo novas experiências.” O sexo, segundo ela, também tem sido uma redescoberta. “A disposição deles é impressionante.”
Malquíades diz acreditar que o interesse dos homens mais jovens esteja ligado à maturidade das mulheres e à busca por uma relação mais profunda. “As mulheres mais velhas oferecem esse tipo de conexão.”
É exatamente isso que Marília, 46, afirma ter sentido. Sete anos após um divórcio ela se relacionou por dez meses com um homem de 22 anos. Discreta e de hábitos mais conservadores, Marília conta que notou que os parceiros mais jovens buscavam compromisso sério, o que desafiou suas próprias crenças. “Foi o relacionamento mais perfeito que eu já tive. Nunca me senti tão amada.”
A relação, no entanto, não resistiu à pressão social e familiar. A mãe de ambos reprovava o relacionamento, que chegou a ser mantido em segredo. Além disso, o namorado queria ter filhos, enquanto ela, mãe de dois, não pensava mais nisso.
Muitas das críticas vêm de outras mulheres. “Minhas amigas ainda comentam, por incrível que pareça”, diz Daniella. Mirian Goldenberg também identificou esse padrão em sua pesquisa: “O olhar das mulheres sobre esse tipo de relação é carregado de preconceito, estigma e julgamento”.
Tanto Marília como Daniella dizem que tentaram se relacionar com homens de sua idade ou mais velhos, mas não se identificaram. Segundo elas, esses homens geralmente preferem mulheres mais jovens e carregam traumas de relacionamentos anteriores, além de nutrir a já citada ideia de superioridade. “Eles têm um pensamento pouco desconstruído”, afirma Daniella, que criou com amigas um bloco de Carnaval batizado de Maria Mucilon, uma brincadeira que faz referência ao suplemento alimentar infantil.
Para a psicóloga Malquíades, homens mais velhos buscam mulheres mais jovens porque estas são percebidas como mais vulneráveis, enquanto mulheres mais velhas, em geral, têm mais segurança em relação à própria sexualidade. “Ainda há uma idealização da juventude por parte desses homens e, ao mesmo tempo, uma dificuldade em lidar com mulheres empoderadas”, diz, citando também o preconceito contra o corpo feminino, que cresce à medida que a mulher envelhece e perde sua função reprodutiva.
Ter filhos não é uma prioridade para Daniella, e seu companheiro, por enquanto, também não demonstrou interesse no tema. Já Marília sabia que a vontade do ex-namorado em se tornar pai inviabilizaria a continuidade do relacionamento.
Para Malquíades, em qualquer relação é preciso dar atenção aos desejos individuais. “Os relacionamentos dão certo a partir do momento em que eu entendo bem aquilo de que eu preciso.”