O empresário brasileiro Ricardo Faria, dono da Granja Faria e apelidado de “Rei dos Ovos”, está expandindo seus negócios para os Estados Unidos por meio de uma aquisição bilionária, em um momento em que os preços dispararam devido à gripe aviária que devasta os bandos de galinhas poedeiras americanas.
A Global Eggs, grupo de holding de capital fechado controlado por Faria, anunciou que concordou em pagar US$ 1,1 bilhão (R$ 6,3 bi) pela Hillandale Farms, um dos maiores fornecedores de ovos de galinha dos EUA.
“Os americanos adoram ovos. É um mercado com alto consumo. Os ovos são o bem de consumo que mais cresce nas prateleiras ou nos carrinhos de supermercado”, disse Faria ao Financial Times.
A escassez atribuída aos surtos de gripe aviária, que forçaram abates de milhões de aves, resultou em preços recordes de ovos nos EUA no início deste ano, levando Washington a buscar maneiras de aumentar as importações.
No entanto, há sinais de alívio para os consumidores. O custo por atacado de uma dúzia de ovos grandes de casca branca caiu um quinto, para US$ 3,27 (R$ 18,82) na semana passada, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, mas ainda permanece bem acima do preço de um ano atrás.
Faria afirmou que a compra da Hillandale, da família Bethel, não foi motivada pelas dinâmicas recentes do mercado, mas sim se encaixa em uma estratégia de expansão internacional.
“Os ovos eram antes um produto para classes de baixa renda. Nos últimos 15 anos, as classes de renda mais alta decidiram emagrecer, viver melhor e substituir alimentos como pão e leite por ovos no café da manhã”, acrescentou.
Com sede em Gettysburg, Pensilvânia, a Hillandale foi fundada em 1958 por Orland Bethel e tem sido administrada pela família desde então. Gregory Cessna, vice-presidente, disse que a Hillandale concordou com o acordo com a Global porque Faria “quer sustentar o negócio”.
Um acordo de compra vinculativo foi assinado, e o fechamento do negócio ainda está sujeito a aprovações finais.
Faria, de 49 anos, entrou na lista de bilionários da Forbes Brasil no ano passado com uma riqueza estimada em R$ 17,5 bilhões. Embora a aquisição da Hillandale envolva algum financiamento por dívida, os empréstimos líquidos da Global Eggs permaneceriam abaixo de 1 vez o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, acrescentou.
A aquisição dobrará a produção das empresas controladas pela Global Eggs, sediada em Luxemburgo, proporcionando uma receita de cerca de US$ 2 bilhões (R$ 11,5 bi) em 2024 e aproximadamente US$ 500 milhões (R$ 2,8 bi) de ebitda, disse Faria.
A Global Eggs foi formada no ano passado e opera no Brasil através da Granja Faria, fundada pelo empresário em 2006 e que se autodenomina líder de mercado. O grupo fez sua primeira incursão no exterior em novembro, pagando 120 milhões de euros pelo controle do Grupo Hevo da Espanha.
Os acordos transfronteiriços destacam a influência do setor agrícola do Brasil, que está entre os maiores produtores globais de alimentos como soja, milho e carne bovina.
A JBS, maior processadora de carne do mundo e com sede em São Paulo, entrou na indústria de ovos em janeiro com a compra de metade das ações da também brasileira Mantiqueira, com um valor empresarial de R$ 1,9 bilhão.
Como parte da transação da Hillandale, o braço de private equity do BTG Pactual vai injetar US$ 300 milhões (R$ 1,7 bi) na Global Eggs em troca de uma participação de 11%. O império dos ovos também planeja uma oferta pública inicial em Nova York.
O Rabobank e o BTG aconselharam a Global Eggs. A Houlihan Lokey aconselhou a Hillandale.