Economistas do setor privado e do governo avaliam que, após dois anos seguidos de aceleração, a economia brasileira vai crescer menos em 2025, mas há dúvidas sobre o tamanho dessa desaceleração.
Outra questão é se ela será suficiente para melhorar as expectativas de inflação e permitir que o Banco Central pare de subir os juros (e possa até cortá-los) ainda neste ano. A avaliação é a de que a desaceleração da atividade não será suficiente para garantir uma inflação na meta, principalmente se o governo decidir colocar novamente estímulos ao crescimento.
Os dados do PIB (Produto Interno Bruto) de 2024, divulgados nesta sexta (7) mostraram crescimento de 3,4% no ano e 0,2% no quatro trimestre. Ambos os resultados ficaram ligeiramente abaixo das estimativas coletadas pela agência Bloomberg (3,5% e 0,4%, respectivamente).
Para o primeiro trimestre deste ano, as projeções são de crescimento mais forte, resultado que deve desacelerar nos trimestres seguintes.
Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, projeta um crescimento de apenas 1,5% em 2025 e afirma que a economia opera abaixo do seu potencial, o que permite discutir o fim do ciclo de alta dos juros, sem que seja necessário levar a taxa básica dos atuais 13,25% para os 15% ao ano projetados na pesquisa Focus.
Para ela, no entanto, não basta a desaceleração da atividade. “O PIB mais fraco é um ponto que muda essa visão sobre uma economia forte, mas precisa ter uma contribuição do governo, não anunciar medidas contracíclicas nesse momento. Essa desaceleração é bem-vinda do ponto de vista do processo inflacionário. É o primeiro passo para que a inflação possa cair nos próximos meses, e se contrapor a isso seria negativo”, afirma a economista.
Natália Cotarelli, economista do Itaú BBA, diz que a instituição projeta um crescimento de 2,2% (projeção próxima dos 2,3% do Ministério da Fazenda) e espera um primeiro trimestre melhor que o visto no final do ano passado, quando o consumo das famílias recuou pela primeira vez desde a pandemia.
Ela afirma que o PIB continua rodando acima do que a instituição considera como potencial, o que não irá mudar com a desaceleração deste ano e representa um desafio adicional para o BC.
“Devemos ter nos próximos trimestres uma desaceleração da atividade, mas uma desaceleração menos intensa do que a gente viu no 4º trimestre”, afirma a economista. “Estamos com uma economia aquecida.”
Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, afirma que ainda não alterou a projeção de crescimento de 2% para 2025, apesar do recuo do consumo no último trimestre do ano passado, dada a incerteza em relação ao cenário atual por conta do ambiente internacional e doméstico.
Ele afirma que dados preliminares sinalizam que a desaceleração do quarto trimestre no consumo das famílias está sendo revertida neste início de ano, mas diz que o quadro geral para 2025 é de um consumo mais fraco do que em 2024. Para Sichel, isso não significa que será possível cortar juros neste ano.
“A gente viu uma inflação resiliente no último trimestre do ano passado, a despeito dessa atividade mais fraca. A atividade por si só não é condição suficiente para ter um recuo das expectativas de inflação e da inflação realizada e, consequentemente, não é condição suficiente para um alívio da política monetária.”
Mariana Rodrigues Monteiro, economista da SulAmérica Investimentos, afirma que, em 2025, a tendência de desaceleração deve continuar, embora o primeiro trimestre ainda se beneficie do desempenho da agropecuária. “Os indicadores divulgados já mostram sinais sutis de arrefecimento, mas sem indícios de colapso”, diz a economista, que projeta crescimento de 2% no ano.
A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, diz que os dados do PIB mostram que a atividade econômica, de maneira geral, se manteve mais resiliente do que o projetado inicialmente para 2024. “Para 2025, projetamos uma desaceleração gradual do PIB”, afirma
Para a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), apesar do bom desempenho em 2024, o Brasil ainda precisa enfrentar “questões fundamentais” que impedem um crescimento perene.
A entidade diz que a taxa de investimento ainda está “muito aquém” da média dos países emergentes (32%), ficando em 17% do PIB.
“Nesse cenário, a Firjan reafirma que o país precisa construir uma base sólida que garanta um crescimento econômico duradouro”, aponta.
“A adoção de uma reforma fiscal robusta é essencial neste processo, e permitirá a alocação mais eficiente dos recursos públicos”, completa.