Você já percebeu como pequenas mudanças na forma como decisões nos são apresentadas podem alterar completamente nossa escolha? Imagine que você decide melhorar sua saúde e começar a correr. Você pode simplesmente dizer que irá três vezes por semana, mas sabe que a motivação pode falhar. Agora, e se você já tiver um tênis confortável pronto na porta de casa, um grupo de amigos esperando por você e um cronograma definido? De repente, a decisão de correr se torna muito mais fácil. O objetivo é o mesmo, mas a forma como você organiza o ambiente pode ser determinante para o sucesso.
O mesmo acontece com dinheiro. Veja esse exemplo. Imagine que você tem 40 anos e está aplicando para um novo trabalho. Seu novo chefe te oferece duas opções de salário. Na primeira, você recebe R$ 10 mil mensais. Na segunda, recebe R$ 9,4 mil e um pacote de proteção que inclui três benefícios: garante R$ 1 milhão para sua família caso algo aconteça com você, você recebe um montante de R$ 1 milhão em caso de invalidez por acidente ou doença e tem 12 meses de salário garantido se precisar se afastar do trabalho por motivo de acidente ou doença.
A maioria escolhe a segunda opção. Afinal, um pequeno desconto mensal por segurança financeira parece um ótimo negócio.
Agora, e se o cenário mudasse? Em vez de apresentar essa escolha como parte do salário, você recebesse os mesmos R$ 10 mil completos e, por conta própria, tem que decidir pagar R$ 600 por mês para ter esse mesmo pacote de proteção. Você contrataria este pacote de proteção? Ou melhor, você tem ele hoje? O que antes parecia uma escolha óbvia agora se torna uma decisão difícil.
Esse é um exemplo clássico do conceito de Nudge, desenvolvido por Richard Thaler, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, e Cass Sunstein. Pequenas mudanças na estrutura das decisões podem nos levar a escolhas mais racionais e alinhadas com nossos interesses, sem imposição.
Nos investimentos, esse efeito também é visível.
Muitas pessoas dizem que querem investir para o longo prazo, mas acabam sabotando seus próprios planos porque organizam seu ambiente de maneira que dificulta boas decisões. Suponha que alguém decide investir mensalmente. Se tiver que lembrar de fazer o aporte todo mês, há grandes chances de esquecer ou gastar o dinheiro antes de investir. Agora, se configurar um aporte automático em uma previdência privada, esse problema desaparece e ele constrói patrimônio com menor esforço.
Agora veja se você também passa por isso. Se você investe para o longo prazo, mas verifica sua carteira diariamente, cada oscilação vira uma tentação para agir. Concorda?
O investidor que confia na estratégia, mas se expõe demais às flutuações, pode acabar vendendo ativos no pior momento. Um simples ajuste, como definir um período fixo e mais espaçado para revisar seus investimentos, pode reduzir essa interferência emocional e melhorar os resultados.
A forma como estruturamos nosso ambiente financeiro influencia diretamente nossas decisões. Se um simples detalhe pode fazer alguém rejeitar ou aceitar uma proteção essencial, ou continuar ou desistir de um investimento, a melhor estratégia é estruturar um sistema que nos leve a tomar as melhores decisões de forma automática.
Afinal, não basta saber o que fazer. O segredo está em tornar o caminho mais fácil para que as decisões certas sejam mais simples.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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