É indiscutível a popularidade dos smartwatches, os relógios inteligentes, entre os praticantes de atividade física. Disponível de diversas marcas, ou até sem marca nenhuma, eles indicam quantos passos você deu ao longo do dia, quantas calorias queimou em uma corrida e até como está a qualidade do seu sono. Apostando no crescimento do mercado, um novo dispositivo surgiu: o smart ring, ou anel inteligente.
Mais leve e discreto, o aparelho pode agradar quem não gosta de usar relógio, principalmente na hora de dormir. O anel se propõe a medir a saturação de oxigênio, frequência cardíaca, contagem de passos, qualidade do sono e até o nível de estresse.
Isso é possível graças a sensores que coletam os dados do corpo. “Esses sensores estão localizados na face interna do smart ring e são controlados por um chip que funciona como um pequeno computador”, diz Dianne Medeiros, professora do Departamento de Engenharia de Telecomunicações da UFF (Universidade Federal Fluminense).
A professora explica que, depois de coletadas, essas informações são analisadas por um programa e transformadas em informações compreensíveis aos seres humanos. Cada sensor funciona de uma forma diferente para coletar uma mensagem específica.
Apesar de serem normalmente precisos, os aparelhos dependem de uma série de variáveis para garantir a exatidão dos dados. Medeiros diz que a primeira e mais importante é a qualidade do sensor —nesse caso, geralmente quanto mais caro, melhor.
Fatores externos também podem influenciar. “Por exemplo, se o smart ring não estiver bem ajustado à pele, a luz ambiente pode ser capturada e interferir na medição; além da temperatura das mãos e movimentação dos braços no caso da contagem de passos”, comenta.
Ou seja, os resultados podem refletir interferências e não servem para fins de diagnóstico clínico.
Então será que investir no dispositivo vale a pena, ainda mais pelo preço de mercado? No Brasil, o único smart ring disponível oficialmente é o Galaxy Ring, da Samsung, por R$ 3.324.
Segundo Bruno Gualano, professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e colunista da Folha, ainda não se tem um bom nível de evidência do que esses anéis se propõem a medir.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Gothenburg, na Suécia, comparou o anel inteligente da marca Oura e técnicas padrão ouro para medir o gasto calórico. Segundo a pesquisa, a tecnologia usada no dispositivo é promissora e teve bons resultados em grupos, mas deixa a desejar na medição individual, o que fez os pesquisadores não recomendarem a substituição de outros equipamentos por esse.
Outras pesquisas também analisaram a eficiência dos anéis inteligentes ao monitorar o sono em comparação a exames tradicionais, como a actigrafia, a polissonografia e o eletroencefalograma. Os achados demonstram uma boa sensibilidade do dispositivo para detectar o sono, mas há limitações que fazem com que os resultados não sejam bons o suficiente para garantir uma alta precisão em contexto clínico.
Apesar de esses estudos apresentarem resultados interessantes, eles ainda são preliminares para afirmar o quão eficiente os dispositivos são no monitoramento da saúde.
A maior parte das pesquisas científicas já feitas sobre os smart rings é sobre a capacidade que eles têm de avaliar o sono.
O monitoramento é feito a partir do movimento do corpo, da variação de frequência cardíaca e da saturação de oxigênio durante a noite. “Isso permite coletar dados que podem ser usados para ajudar a identificar se a pessoa possui apneia do sono”, observa Medeiros.
Ao mesmo tempo, Gualano afirma que, em indivíduos saudáveis e sem suspeitas de distúrbios do sono, não existe benefício em monitorar a sua qualidade. “Só coletar informações, mesmo que em tempo real e para a própria pessoa, sem saber o que isso vai mudar na nossa conduta, não tem sentido.”
Já para pessoas que têm condições médicas, como apneia do sono ou outras condições respiratórias, o médico diz que pode ser uma alternativa interessante no futuro, mas que ainda carece de bons estudos para medir a acurácia dos dispositivos.