A Apple perdeu mais de US$ 250 bilhões (R$ 1,40 trilhão) em valor de mercado nesta quinta-feira (03) e se tornou uma das maiores vítimas do tarifaço de Donald Trump, apesar dos esforços do CEO da empresa, Tim Cook, de se aproximar da administração do republicano.
As ações da fabricante do iPhone caíram até 8,5% quando o pregão abriu em Nova York nesta quinta, o suficiente para reduzir sua capitalização de mercado de US$ 3,37 trilhões (R$ 18,87 trilhões) para US$ 3,12 trilhões (R$ 17,47 trilhões).
Trump atingiu os maiores centros de fabricação da Apple na Ásia, incluindo China, Taiwan, Índia e Vietnã, com novas tarifas sobre produtos importados para os EUA.
A medida afetará quase todos os modelos de iPhone, iPad, Mac e acessórios que a gigante da tecnologia vende.
Analistas do Citi calculam que a fabricante do iPhone tem mais de 90% de sua fabricação na China, que deve enfrentar tarifas combinadas de pelo menos 54% sobre importações para os EUA.
Vietnã e Índia, que produzem iPhones, AirPods e Watches, enfrentam tarifas “recíprocas” de 46% e 26%, respectivamente.
No entanto, semicondutores estão atualmente isentos das novas tarifas, o que poderia proteger a Apple, que é cliente da gigante de fabricação de chips Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, de uma tarifa “recíproca” de 32% na ilha.
A promessa do presidente dos EUA de “libertar” a economia apresenta a Tim Cook uma escolha indesejável entre aumentar os preços de seus eletrônicos de ponta ou absorver os custos extras, o que pode diminuir os lucros de dezenas de bilhões de dólares dos investidores da Apple.
No entanto, Cook, que arriscou a ira dos funcionários da Apple ao comparecer à posse de Trump e visitar o presidente na Casa Branca, ainda não obteve nenhuma isenção das novas tarifas. A Casa Branca confirmou que não há exceções para a Apple na ordem do presidente.
Na noite de quarta-feira, a empresa se recusou a comentar se havia alguma perspectiva de conseguir uma isenção das taxas, como conseguiu durante o primeiro mandato de Trump. A Apple não respondeu imediatamente a um novo pedido para falar sobre o assunto nesta quinta-feira.
Em fevereiro, a Apple prometeu contratar 20.000 funcionários e investir US$ 500 bilhões nos EUA nos próximos quatro anos, incluindo uma nova fábrica para desenvolver servidores para inteligência artificial no Texas.
Acredita-se que a nova fábrica de chips da TSMC no Arizona represente uma grande parte dos centenas de bilhões de dólares que tanto a Apple quanto a Nvidia prometeram gastar na produção nos EUA nos próximos anos.
No entanto, expandir essa planta provavelmente se tornará mais caro também, dada a nova tarifa de 20% sobre importações da UE, incluindo do fabricante crítico de equipamentos de chips ASML, com sede na Holanda.
Analistas do banco de investimentos TD Cowen estimam que as vendas nos EUA representam quase um terço das receitas totais da Apple, das quais cerca de três quartos vêm de produtos de hardware. O iPhone sozinho representa quase dois terços das receitas de hardware nos EUA, disseram.
“Com base na gama de produtos de hardware que a Apple vende… e nos países que os fabricam, estimamos que cada 10% de tarifas impactaria o lucro líquido em 3,5 ou 4% nos próximos dois anos”, afirma o banco em nota aos clientes.
Analistas do banco global Citi estimam um impacto de 9% na margem bruta total da empresa, caso ela não consiga evitar as tarifas da China atualmente previstas.
Cerca de 37 milhões de iPhones serão importados da China para os EUA este ano, estima o banco Jefferies. A menos que aumente os preços para compensar as taxas, a empresa terá um lucro líquido de 14%, diz a instituição.
Segundo a Jefferies em nota nesta quinta-feira, as tarifas impactarão a cadeia de suprimentos da empresa. “Mesmo que a Apple seja isenta das tarifas atuais, precisará acelerar seus esforços de diversificação da cadeia de suprimentos e, portanto, precisará pagar melhor seus fornecedores”, diz.