A China afirmou estar pronta para quaisquer “choques inesperados”, antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor tarifas mais altas ao país asiático.
O primeiro-ministro Li Qiang, responsável pela economia chinesa sob a liderança de Xi Jinping, disse a líderes empresariais estrangeiros reunidos em Pequim neste domingo (23) que a incerteza e a instabilidade estão aumentando, mas que a China irá escolher o “caminho correto” da globalização e do multilateralismo.
“Temos preparações para possíveis choques inesperados, que, claro, vêm principalmente de fontes externas”, disse Li.
E em uma crítica velada ao que Pequim vê como protecionismo ocidental, Li instou os participantes do Fórum de Desenvolvimento da China a serem “defensores firmes” da globalização e a “resistirem ao unilateralismo”.
Espera-se que os EUA imponham taxas adicionais sobre importações da China em 2 de abril, quando revelarão “tarifas recíprocas” sobre países ao redor do mundo.
Desde que assumiu o cargo, Trump já impôs tarifas de 20% sobre produtos da China, em uma medida que a Casa Branca diz ser projetada para pressionar Pequim a reprimir com mais rigor as empresas que fabricam os ingredientes para o fentanil, um opioide sintético às vezes mortal que desencadeou uma epidemia de uso de drogas nos EUA.
O tom cauteloso do primeiro-ministro chinês surge enquanto Pequim tenta melhorar o sentimento dos consumidores e investidores, ao mesmo tempo que se prepara para possíveis medidas retaliatórias contra futuras tarifas e sanções dos EUA.
Embora a administração de Xi tenha sido pega de surpresa pela vitória eleitoral de Trump em 2016, Pequim agora está armada com um arsenal de potenciais contramedidas à nova pressão dos EUA. Elas incluem restringir o acesso americano a cadeias de suprimento de minerais e recursos estratégicos.
Em meio a apelos de economistas para que Pequim seja mais ousada ao enfrentar o crescimento econômico lento, o governo de Xi está se voltando para mais investimentos em tecnologia de ponta e manufatura, em parte para se preparar para um ambiente geopolítico mais hostil.
Houve poucas conversas de alto nível entre os EUA e a China desde que Trump assumiu o cargo, exceto por uma ligação telefônica entre o republicano e o presidente Xi Jinping.
Na semana passada, Trump disse que Xi viria aos EUA em um “futuro não muito distante”, mas pessoas familiarizadas com as conversas em Washington e Pequim disseram que não houve discussão sobre Xi viajar para o país.
Também neste domingo, Li se encontrou com Steve Daines, um senador republicano de Montana muito próximo de Trump, em uma rara reunião entre um legislador americano sênior e um alto funcionário chinês.
Li, acompanhado por altos funcionários, incluindo o ministro do comércio Wang Wentao, pediu por melhores laços entre Washington e Pequim.
“A história nos diz que China e Estados Unidos têm a ganhar com a cooperação e a perder com a confrontação”, disse ele ao lado americano, que também incluía o executivo da Pfizer Albert Bourla e o diretor executivo da Qualcomm Cristiano Amon.
De acordo com o escritório de Daines, em uma reunião no sábado com o vice-primeiro-ministro He Lifeng, o senador reiterou o pedido de Trump para que a China interrompa o fluxo de produtos químicos usados para fabricar fentanil. Acrescentou que Daines “expressou esperança de que mais conversas de alto nível entre os Estados Unidos e a China ocorram em um futuro próximo”.
No início deste mês, o Conselho de Estado, o gabinete da China, divulgou um novo livro branco delineando o “controle rigoroso” de Pequim sobre substâncias relacionadas ao fentanil e produtos químicos precursores. A mídia estatal também rebateu a pressão de Washington, dizendo que os EUA “transferiram a culpa” por seu problema com drogas “em vez de assumir a responsabilidade”.